Estamos a começar um novo ano letivo… com muitas mudanças.
Na esfera do poder político conjeturam-se mudanças nas pessoas e nas políticas. Nos 1º e 2º ciclos, cada vez mais vozes questionam o mérito da realização de exames e colocam em causa a sua continuidade. No final do 3º ciclo o exame nacional irá incidir sobre o novo programa do ensino básico, sem que esteja claro a dimensão e a natureza das alterações com que devemos contar. Na disciplina de Matemática A, daremos início à implementação de um novo programa, que irá estender o período de incerteza pelos próximos três anos até que seja conhecido o impacto do mesmo em provas nacionais.
Nada garante que o período de instabilidade não se prolongue por um período mais alargado de tempo, visto que foi transmitido aos professores, de forma reiterada, que poderiam ser introduzidos ajustes nos programas, no caso de se verificarem dificuldades na sua implementação. E são conhecidas muitas dificuldades. A abundância de conteúdos facultativos, redundantes e acessíveis apenas aos melhores alunos gera dificuldades na gestão do programa, que poderá ser enfatizada na realização de exames nacionais.

A estabilidade não parece ser o mote para este ano letivo. Aliás, com a hipótese de alteração do poder político, são muitos os que pretendem novas mudanças na política educativa, e no ensino da Matemática em particular. De resto a estabilidade não é um valor em si mesma - para melhor, muda-se sempre. Mais instabilidade pode ser um preço que valha a pena pagar para evitar males maiores. Quem invalidou a mudança curricular de 2007, discutida, negociada, acompanhada e progressiva, não poderá agora defender a estabilidade como elemento essencial para a manutenção de políticas educativas.
Por exemplo, relativamente aos exames de Matemática A do ensino secundário, terminámos um ano de instabilidade, boa! A tendência (estável) dos últimos anos de provas com um insucesso crescente sem correspondência com as aprendizagens dos alunos foi quebrada. Houve variações significativas na estrutura das provas e nas classificações dos alunos. Foi uma mudança desejada e elogiada. A estabilidade num quadro de provas desajustadas, elitistas e polémicas era defendida por muito poucos.

Existe outra forma de instabilidade, normalmente designada por inovação, que precisa de ser fomentada! Nos últimos anos experiências pedagógicas na aprendizagem da Matemática, como a utilização de sensores e outras tecnologias, a atenção a metodologias inovadoras como o trabalho de projeto ou atividades centradas na atividade exploratória, foram sendo remetidas para um segundo plano, (talvez) com a intenção de as inibir ou dificultar. Este tipo de investimento implica alguma instabilidade, mas também reflexão, melhorias, conhecimento e aprendizagens.
Será necessário voltar a investir em práticas docentes no ensino da Matemática que permitam uma aproximação às melhores práticas identificadas na investigação. Será necessário experimentar o potencial educativo e formativo das tecnologias que teimam em chegar aos alunos, apesar da escola.

Este pode voltar a ser um ano de instabilidade no ensino da Matemática… e há uma possibilidade de isso ser um bom sinal.
Precisamos de instabilidade… da boa!

primeira versão deste texto foi originalmente publicada na rubrica Valor Absoluto do Clube de Matemática da SPM, em 11 de setembro de 2015.