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Estudos realizados acerca da utilização de recursos nas aulas de Matemática apontam que o manual escolar é o principal meio didático a que os professores e alunos mais recorrem. Em Portugal, arrisco a afirmar que a maior parte dos docentes veem o manual escolar como um instrumento de trabalho essencial para a seu dia a dia profissional.

O que é facto é que o manual escolar é construído sob o ponto de vista dos seus autores e da interpretação que estes fazem acerca dos currículos oficiais. Cada autor possui uma opinião acerca do que é ensinar matemática e qual a melhor metodologia para o fazer. Assim, nos manuais, a mensagem dos Programas surge distorcida, alterada e, por vezes, menos bem interpretada. Outras tantas vezes, as metodologias apresentadas nos manuais não são as melhores ou são desadequadas aos alunos a que se destinam.

O Programa de Matemática atualmente em vigor, apesar de estar muito longe de ser perfeito, constitui a base de trabalho de qualquer professor de Matemática. É nele que estão definidos todos os conteúdos que deverão ser abordados em sala de aula. Idealmente, o Programa, para além disso, terá de definir também metodologias de trabalho e de ensino para os professores de Matemática. Ou seja, constitui uma “Bíblia Sagrada” para a docência.

Infelizmente, devido à falta de tempo, ao excesso de trabalho letivo e a outros tantos fatores, os professores de Matemática deixam o destino das suas aulas entregue ao manual escolar. Ou seja, não existe uma leitura cuidada e crítica do Programa, mas sim a aceitação das interpretações dos autores dos manuais. Desta forma, por desconhecimento próprio, prevalece a opinião de que o atual Programa de Matemática é demasiado exigente.

Na minha opinião, este programa não é demasiado exigente. É desajustado. É extenso. Mas não o acho exigente... Um programa exigente para os alunos é um programa que os obriga a possuírem um papel ativo nas suas aprendizagens. Tal ideia não se vê no atual Programa e Metas Curriculares de Matemática. Quem o lê e analisa, identifica uma tendência para a promoção da mecanização e para a memorização de “factos e procedimentos” matemáticos (pode ler-se na página 4 do referido documento).

Há que praticar novas tendências profissionais em relação ao manual, criar novas ideias nos professores em relação à fidelização docente pelo manual escolar. Não estou a afirmar, nem quero promover a ideia de que possuo algo contra o manual escolar. Antes pelo contrário... É um excelente recurso para muitos momentos das minhas aulas e para o trabalho autónomo dos alunos. Apenas me faz confusão a ideia de que os docentes prescrevam na totalidade o que nele diz. Não esqueçamos que o professor tem de ser uma pessoa crítica que prima pela formação e desenvolvimento de futuros cidadãos que se querem críticos na sociedade onde vivem. Se queremos ser coerentes naquilo que fazemos, há que o ser na prática e não apenas limitarmo-nos a promover a teoria.

Em conclusão, deixo o seguinte desafio em forma de curiosidade. Atualmente, está estabelecido por lei de que as escolas não são obrigadas a adotarem manuais escolares em qualquer uma das disciplinas. Porque não os grupos de professores de Matemática criarem os seus manuais escolares, adaptados às realidades sociais, politicas e económicas dos seus alunos...? Porque é que os professores de um determinado estabelecimento de ensino não constroem em conjunto o seu manual escolar que esteja de acordo com as metodologias de ensino e aprendizagem que praticam...?

Acredito que dê imenso trabalho, mas no final tudo compensará. O resultado desta equação será alunos que aprenderam e professores que ensinaram da forma como gostam.

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