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Nos últimos tempos, tem sido muitas as conversas, reflexões e opiniões acerca do que se pretende do possível (mas cada vez mais concreto) futuro programa curricular da disciplina de Matemática. Várias entidades importantes singulares e coletivas têm vindo a manifestar as suas opiniões acerca do que se pretende que um finalista do ensino secundário saiba sobre Matemática. Isto é, quais são as capacidades que os alunos devem demonstrar ter para serem cidadãos matematicamente literados e informados no final do seu ciclo básico de estudos.

Através deste texto, sinto-me à vontade de acrescentar mais algumas ideias sobre este assunto. A opinião aqui manifestada é de um jovem recém-formado, docente de Matemática, que estudou matemática no ensino secundário há pouco tempo, que nasceu na Geração Z e que lê e vive a realidade atual de forma atenta e informada.

O currículo de Matemática, que se promove e se vive na atual realidade escolar, é desajustado aos jovens do século XXI. Nele promove-se a formação industrial, a produção em linha, igual e sem qualquer espaço para a diferença, para a particularidade, para o moldar adequado do diamante em bruto que é um aluno. A Matemática deixou de ser ensinada com o objetivo de formar e dar conhecimento ao aluno acerca da realidade e da sociedade, obedecendo assim às orientações curriculares atualmente em vigor em Portugal.

Uma sala de aula de Matemática estática, unilateral e sem qualquer espaço de manobra por parte dos alunos não corresponde à realidade vivida pela sociedade. Cada vez mais se exige dos cidadãos um papel ativo naquilo que fazem e um papel crítico sobre aquilo que o rodeia. Uma sala de aula em que os alunos estão virados na direção de um quadro branco (ou preto para os mais tradicionais), sem qualquer espaço para o pensamento livre, sem qualquer espaço de descoberta ou de decisão, é uma sala de aula que não descreve à realidade do século XXI.

Tem de haver mais tecnologia, mais debate, mais discussão, mais tempo de reflexão e de comunicação, mais espaço de decisão democrática, mais espaço de descoberta e de exploração... Tem de haver menos avaliação como juízo de valor, menos conhecimento absoluto. A sociedade é construída, de forma democrática, por todos e com as ideias de todos. Não se pode resumir o conhecimento matemático a meia dúzia de palavras e ideias estáticas e escritas no papel, como se fosse proibido refutar, como se a informação transmitida fosse perfeita, acabada, sem qualquer espaço para a evolução e para o desenvolvimento. Não foi assim que se construiu a Matemática que se conhece hoje.

É preciso uma fronteira maior. Os alunos necessitam de espaço e de tempo mais alargados para aprenderem, para se adaptarem, para aprenderem a ser. Precisam de mais do sistema educativo e de melhor. Não querem ser os melhores em tudo e de forma imediata. Não querem apenas teoria. Querem conhecimento prático, querem ser informados do que existe e qual a sua aplicabilidade real. Querem experimentar e pôr em prática o conhecimento matemático. Apenas querem saber e descobrir.

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