Nos últimos tempos, a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação nas aulas da Matemática tem sido recomendadas de uma forma intensa e constante em todo o tipo de documentos curriculares e investigações cientificas ligadas ao ensino. A utilização das tecnologias no ensino da unidade da Estatística não é exceção.

De facto, as novas tecnologias da informação e comunicação (TIC) têm exercido uma grande e importante influência no ensino da Estatística uma vez que a sua utilização possibilita o tratamento de dados reais em substituição dos típicos exemplos de amostras pequenas (que surgem como resposta à necessidade de realização de cálculos simples).

Assim, a implementação de investigações estatísticas em sala de aula, recorrendo aos recursos tecnológicos, poderá vir a beneficiar o desenvolvimento da literacia estatística nos alunos. É reconhecido que o uso de tecnologia é, na sociedade atual, um ponto fundamental da prática da Estatística. De facto, é da minha opinião, que a literacia computacional surge como consequência da literacia estatística, inevitavelmente. A ideia não é transformar os alunos em pequenos especialistas estatísticos, mas sim desenvolver as capacidades de compreensão dos processos elementares da recolha e análise de dados estatísticos e a compreensão dos raciocínios estatísticos e fenómenos aleatórios.

A aprendizagem poder ser feita com base em tarefas da realidade, construídas e idealizadas pelos próprios. A realização de investigações estatísticas permite que a envolvência dos alunos seja maior em comparação com a típica imagem do ensino transmissivo, em que o professor apresenta determinado conceito estatístico ao aluno e, de seguida, explora um exemplo artificial e desconectado com a realidade. Seguindo este modelo de processo de ensino e aprendizagem artificial em Estatística, o que é facto é que muitos detalhes passam despercebidos aos alunos e poderão marcar negativamente o seu percurso de formação. Ao dizer detalhes, especifica-se aspetos que envolvem conhecimentos para comunicar estatisticamente, julgar, fazer inferências, comentar e tecer opiniões acerca de informações estatísticas. Os alunos não ficam preparados para serem futuros cidadãos estatisticamente literados, críticos e capazes de tomarem decisões pessoais e sociais estatisticamente responsáveis.

A utilização de softwares tecnológicos permite que possa haver a exploração de dados reais e em grande quantidade, sendo possível a exploração de informações estatísticas sociais (como por exemplo, informações que se podem tirar de sites como o ALEA ou o INE) com grande rapidez, no que diz respeito a procedimentos de organização e tratamento de dados. Fica, pois, mais tempo para a exploração da realização de análises, inferências, conclusões e, até quem sabe, novas interrogações e explorações. Para além disto, e tendo em conta que as atuais gerações estão bastante ligadas às novas tecnologias e são bastante fluentes na sua utilização, a exploração de investigações estatísticas recorrendo às TIC poderá tornar-se bastante atrativo para os alunos, aumentando exponencialmente o seu interesse e, por consequência, a sua aprendizagem matemática.

Desta forma, as TIC constituem uma aposta com futuro e um investimento seguro no processo do ensino e aprendizagem.

No entanto, claro que a utilização das novas tecnologias possui também subjacente alguns desafios para o ensino. A pouca disponibilidade temporal poderá ser um desses desafios. Com um currículo cada vez mais extenso, o tempo que se destina à realização de investigações fica condicionado e é escasso. A utilização de tecnologia faz com que o docente tenha de destinar algum tempo à introdução da tecnologia e familiarização dos alunos para a sua utilização. Desta forma, o pouco tempo que se destina à realização destas investigações, fica ainda mais reduzido. Tal desmotiva o professor para a sua realização e para a utilização das TIC, nas salas de aula. Julgo que a construção de um bom guião de utilização para a exploração das tecnologias por parte dos alunos poderá ser uma boa medida para combater esta dificuldade.

Outro dos desafios que se coloca à introdução das tecnologias no ensino da Estatística poderá ser a falta de formação, conhecimento e sensibilidade docente na utilização dessas mesmas TIC. Existem estudos que reconhecem que os recursos mais utilizados no ensino da Estatística são o manual, as fichas de trabalho e a calculadora gráfica (especial destaque para esta última). No entanto, a Internet e a Folha de Cálculo surgem como os recursos menos usados. Assim sendo, a diversidade de software para o estudo da estatística reconhecido pelos professores é bastante limitada, o que conduz a mais um desafio que deverá ser ultrapassado, nas salas de aula atuais.

A participação e formação continua dos docentes poderá ser um meio de ultrapassar esta dificuldade. Existem imensos encontros, conferências e oficinas a serem promovidas pelas diferentes associações e sociedades ligadas ao ensino da Matemática, em Portugal, que abordam e oferecem um leque variado de meios tecnológicos a serem explorados no ensino da Estatística. Em muitos deles, a realização de oficinas de exploração das TIC é uma constante. Só os docentes que não têm interesse ou que não se preocupam em se informar sobre estas TIC é que não conseguirão obter formação.

O facto de alguns softwares destinados ao ensino da Estatística serem com subscrição paga poderá ser outro entrave e desafio para a implementação destas “inovações” em sala de aula. Estando em tempos de contensão de custos, os estabelecimentos de ensino em Portugal não conseguem realizar investimentos seguros em materiais informáticos (quer software, quer hardware) que permitam a sua implementação em sala de aula. Softwares como o TinkerPlots, Ti-Navigator ou outros softwares pagos são de facto um entrave à sua adoção, pois acarretam custos e meios financeiros que não conseguem ser garantidos pelos administradores escolares. Uma forma de tentar combater tais desafios é a utilização de softwares gratuitos, como o caso do Geogebra que, apesar de não ter sido concebido exclusivamente para a estatística e análise estatística, poderá ser um bom recurso alternativo. A utilização de calculadoras gráficas e da Folha de Cálculo, que estão na posse de muitas escolas graças a acordos institucionais e a programas de empréstimo, poderão também constituir um “plano B” de resposta a este problema.

O último desafio que reconheço na tentativa de implementação das TIC no estudo da Organização e Tratamento de Dados corresponde aos próprios documentos curriculares em vigor, em Portugal. De facto, em ambos dos documentos curriculares da disciplina de Matemática existentes em Portugal (mais especificamente, o Programa e Metas Curriculares de Matemática e Matemática A de 2013) apenas mencionam a calculadora gráfica como ferramenta tecnológica. Essa indicação surge como indicação geral e não associada ao domínio da Organização e Tratamento de Dados. Assim, os professores de Matemática estão bastante limitados no que diz respeito ao principal documento e instrumento curricular.

Poderá algum professor de Matemática estar sensibilizado para a sua utilização em sala de aula quando o currículo prescrito não se ajusta, nem menciona o recurso a este potencial instrumento de aprendizagem? Assim, julgo que tal facto se apresenta como mais um grande desafio para a implementação das TIC no ensino da Estatística.

Será que estes desafios fazem com que a “balança” tenda mais para a não utilização das tecnologias no ensino da Estatística...? A minha resposta é não. Os docentes têm de se guiar pelo objetivo de formar futuros cidadãos informados e que sejam capazes de serem autónomos para enfrentarem os desafios do amanhã. Esses desafios passam por contextos tecnológicos cada vez mais avançados e melhorados que exigem respostas cada vez mais rápidas, inteligentes e sofisticadas. É importante o professor de Matemática promover um ensino virado para a realização de investigações e para a resolução de problemas estatísticos envolvendo as TIC, como forma de desenvolver as sociedades humanas do futuro, cada vez mais perto de se concretizarem.