Acordei hoje para mais uma semana de espera. Sou Professor Contratado na Escola Pública. Afinal a lista saí ou não saí...? A lista saiu.
Fiquei colocado a 200 km de casa. Lá vou eu fazer as malas e levar tudo para uma nova casa, para um novo sítio. Prospeção de como vai correr...? Não sei. Estabilidade...? Muito menos saberei.
Resta meter-me na estrada e ir. Levo livros, roupa e pouco mais. Não terei tempo suficiente para personalizar o meu novo quarto e o meu novo espaço, pois quando dou por mim já estou novamente fora do sistema. Não vale a pena levar muita coisa.
Fantasio a ideia de um dia ter uma casa própria. Mas não passa de uma fantasia. Nenhum banco aceita (num caso extremo) dar crédito a um professor nestas condições... Não os censuro. Como dar crédito a uma pessoa que hoje está empregada e amanhã poderá não estar? Lá continuarei a pagar por um quarto que representa, pelo menos, um terço do meu ordenado. Será que vale a pena esta vida de andar para cá e para lá sem saber onde pararei? Para quando poderei assentar a minha vida, construir uma família e um lar? “Talvez daqui a uns 10 anos” dizem. “Há muitos a ir para a reformar agora” vendem eles à espera de que eu acredite e tenha esperança. E eu lá vou tendo e vou promovendo essa positividade em mim.
A minha mãe abraça-me na despedida, dando-me boa sorte. Por dentro, já começo a sentir a saudade. Será que optei bem? Porquê ser professor nestas condições? O que me leva ainda a suportar 10 anos de instabilidade?
Sonho com o dia em que poderei dar continuidade com os meus alunos. De começar, continuar e concluir um ciclo com eles... De desenvolver um trabalho contínuo e duradouro. Este processo de começar e terminar parcialmente ou não terminar de todo algo com eles não faz sentido, não é produtivo e muito menos promotor pedagógico da aprendizagem. Para não falar, dos dias/meses/trimestres que eles estiveram sem professor nenhum, quando eu estava aqui à espera. E eles lá continuaram à espera também.
Ser professor é muito ingrato hoje em dia. E ser professor contratado ainda mais. Somos um dos profissionais mais importantes na sociedade. E, no entanto, somos pouco reconhecidos. Deveríamos ser um dos profissionais que mais estabilidade deveria ter pelo nosso trabalho e pelo nosso papel. E, no entanto, cá estamos de malas aviadas anualmente.
“Valerá a pena?”, pergunto-me. E surge então a voz do poeta “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.